sexta-feira, 1 de julho de 2011

Da magia dos Nós


Tenho aprendido muito com a magia que envolve fios, barbantes, linhas e nós. É um tipo de magia simples, mas nem por isso mais fácil ou menos exigente. Ela envolve relaxamento, concentração e visualização. Três técnicas que, a meu ver, são fundamentais em magia, independentemente da doutrina, filosofia ou sistema mágico que você siga. E, por isso mesmo, requer dedicação.

Para mim, as técnicas de bordado se mostraram um instrumento através do qual tenho conseguido, primeiramente, deixar os pensamentos fluírem sem interrupções, expor os sentimentos que eles mobilizam, para depois silenciar e estar aberta ao mundo invisível... O que nem sempre é fácil, pois, devido à correria do dia-a-dia e além de dividir a casa com outras pessoas, conseguir um momento a sós comigo mesma tornar-se uma verdadeira missão; mas não impossível.

Tive que adaptar alguns horários e, mesmo na presença de outras pessoas, o estado alterado de consciência acaba por acontecer... As primeiras imagens afloram à mente. No início, uma confusão de cores, cenas e sensações.E você se pergunta se de fato está vendo alguma coisa ou são apenas pensamentos dirigidos por sua própria vontade. Mas aos poucos, você identifica frases que nunca pensou ou cenas que nunca viveu.
A porta está aberta... e os bordados funcionam, para mim, como uma verdadeira maçaneta.

Bordar exige tempo, força de vontade em aprender, disciplina para treinar, criatividade, concentração para não contar os pontos errados e, mesmo com toda a atenção, em alguns momentos você terá que desfazer e recomeçar. Mas quando você passa a dominar a técnica, aprende a relaxar e a visualizar os desenhos já prontos.
E, cá pra nós, não é assim também no caminho mágico?

Triskle em Ponto Oitinho


O triskle (triskele, triskelion ou tryfot) é um símbolo celta que representa as tríades da vida em eterno movimento e equilíbrio, como nascimento, vida e morte, corpo, mente e espírito, céu, mar e terra.

É uma espécie de estrela de três pontas, geralmente curvadas, que confere à imagem uma graciosa fluidez de movimento. Pode ainda ser definida como um conjunto de três espirais concêntricas, sendo um dos elementos mais presentes na arte celta, e tem sua origem atribuída aos povos mesolíticos e neolíticos.

O triskle é um antigo símbolo indo-europeu, também utilizado por povos germânicos e gregos. Os Celtas consideravam o número três sagrado e o triskle, com suas três pontas, tem a ver com o fluxo das estações e, por consequência, representa a própria Deusa Tríplice (Donzela, Mãe e Anciã), bem como as três fases da lua (crescente, cheia e minguante), ou ainda a nossa natureza tríplice (corpo, mente e alma).

Assim, a presença do triskle em achados arqueológicos em terras celtas, da Irlanda à Europa Oriental, atesta sua ampla adoção pelos Antigos. A iconografia continental atribui grande ênfase ao simbolismo da tríade, o conceito da triplicidade, e o conteúdo mítico-literal ausente no continente é amplamente fornecido pela infindável variação desse tema na literatura irlandesa e galesa.

Fonte: O Grande Oráculo (http://matprimapsicologia.spaces.live.com/blog/cns!3D33381A32D03CD!252.entry)

Ankh em Ponto Oitinho


"A alça oval que compõe o ankh sugere um cordão entrelaçado com as duas pontas opostas que significam os princípios feminino e masculino, fundamentais para a criação da vida. Em outras interpretações, representa a união entre as divindades Osíris e Ísis, que proporcionava a cheia periódica do Nilo, fundamental para a sobrevivência da civilização. Neste caso, o ciclo previsível e inalterável das águas era atribuído ao conceito de reencarnação, uma das principais características da crença egípcia. A linha vertical que desce exatamente do centro do laço é o ponto de intersecção dos pólos, e representa o fruto da união entre os opostos..."
(Fonte:http://pt.wikipedia.org/wiki/Ankh)

Ainda buscando na net, vi que os símbolos e desenhos com motivos pagãos disponíveis são quase que exclusivamente bordados na técnica de Ponto de Cruz. Decidi, então, optar (e tentar) em criar este Ankh a partir de uma outra técnica, uma variação do Vagonite, chamada Ponto Oitinho.
Este tipo de técnica é ideal para a confecção de desenhos, gravuras e símbolos, e o
legal da história é poder variar as técnicas, ampliando o leque de possibilidades para quem deseja bordar. A vantagem do Vagonite sobre o Ponto Cruz é o avesso. Ele fica limpo como se nada tivesse sido bordado.

O Ankh pode ser bordado em uma toalha, por exemplo, e ser dada de presente a alguém que se ame. Por ser símbolo da união dos opostos, enquanto o borda visualize você e a outra pessoa em momentos de união e companheirismo. Ideal para casais que se encontrem em conflito. Mas lembrando que, se a situação já chegou em um ponto em que não há mais respeito, talvez o ideal seja permitir que esta pessoa encontre um novo caminho, assim como você também deverá se libertar para encontrar o seu.

Agulhas e Bordados


Seguindo em minha busca na internet sobre bordados com motivos pagãos percebi que são poucos os sites, blogs e afins que se dedicam a este aspecto da Arte.
Parece que o âmbito doméstico acaba por tornar invisíveis algumas das faces da Deusa, principalmente aquelas que exigem constante criatividade para que se construam novas formas de expansão do conhecimento e que permitam que a magia do cotidiano aconteça. A meu ver, é uma pena...

Outro dia estava numa livraria, naquela sessão básica de "esotéricos", quando fui abordada por uma jovem que me perguntou se eu era uma bruxa. Disse que sim. Ela me olhou de cima a baixo e apenas falou: "Ahhh, é que não parece." E se afastou. Não sei o que ela esperava... Talvez o fato de estar vestida com uma roupa "de trabalho" e segurando uma revista de bordado não tenha sido uma apresentação lá muito "adequada".
Mas enfim... Acredito que a palavra da vez é desconstrução.
E desconstruir envolve criticidade.

Acredito que, da mesma forma em que aprendemos a não aceitar como verdadeira a imagem da bruxa "hollywoodiana", é preciso ainda descontruir outros pré-conceitos.
A bruxaria realizada no âmbito doméstico, e que utiliza em suas práticas objetos e utensílios próprios deste ambiente, é muitas vezes relegada a uma categoria inferior, rechaçada. Alguns nem mesmo a consideram presente nos dias de hoje.

O fato é que as coisas simples não andam recebendo o seu merecido respeito e este aspecto da Arte acaba por ser esquecido. Voltar a estas raízes não significa se re-submeter às antigas leis das relações e do espaço doméstico, mas sim, reencontrar-se com práticas tão utilizadas no passado e que, pouco a pouco, perderam-se no caminho. Para mim, é espaço de veneração às mulheres que me antecederam...

Novo Ciclo, Velha Lua


Mais uma lua cheia no céu... Vista daqui de baixo parece tão distante do meu caminho. Só parece, eu sei. Às vezes sinto como se Ela viesse apenas para nos lembrar de algo. Talvez dos meus compromissos, das coisas que assumi e das coisas que abdiquei...

Nostálgica? Talvez. Mas gostaria de saber como é possível alguém sentir falta de coisas que não vivenciou? Ao menos não nesta vida... Fecho os olhos e caminho por entre o mato, sentindo o cheiro da terra molhada e da chuva sobre mim. Vejo uma casa simples, cozinha em madeira, ervas, aconchego, retalhos. Abro os olhos e a saudade vem.

Olho a Senhora, e Ela me olha. Nos olhamos, nos reconhecemos. E Lhe abro os braços envolta em seus feixos de luz. As palavras vão saindo, ganhando corpo, forma e sonoridade:

"Mãe...
dai-me forças, que eu não me abandone,
mas se eu me abandonar,
que seja no sonho, no desejo e no amor,
que eu mergulhe sem dor,
com passo firme neste caminhar.

Que meu corpo seja então o Teu templo,
neste ciclo que passa, que vem e que vai,
cândido, tranquilo e sereno
sem rancor, raiva ou lamento,
que ora se constrói, ora se esvai.

De mim mesma, me purifique,
Tu que me vês e me acompanha,
Velha Lua, Grande Sábia,
Que eu seja amor em noite clara,
Que eu seja cor feito de chama..."

E mais uma vez estou aqui, em meu quarto...fiando e tecendo.
Lembrando daquela fui. Lembrando daquela que virá.

Entre Fios e Nós


"Se ao acordar, seu cabelo estiver embaraçado, costuma-se dizer que os elfos e fadas estiveram brincando com seu cabelo enquanto dormia..." (Scott Cunningham)

A magia se revela de várias formas em nossas vidas, e confesso que já não me lembro da primeira vez em que tive contato com esse novo (ou seria velho?) mundo. Há tanto tempo que a Deusa habita por entre meus atos e orações que já não me vem à cabeça quando de fato tudo teve início.

Lembro de quando criança mergulhar no mundo mágico dos retalhos, dos botões coloridos, das agulhas espetadas nas pontas dos dedos, das bonecas nada convencionais, das linhas e barbantes se emaranhando, dos nós feitos e tão delicadamente desatados...

A partir das linhas e nós dos bordados, percebi que a magia naturalmente acontece e se realiza nos ritos do cotidiano... Me percebo uma bruxa simples, caseira, que contempla a grande lua da janela do quarto. Uma bruxa do "espaço doméstico" que vivencia os Deuses em todos os atos de amor.

A idéia de criar este espaço não foi de escrever tratados em magia ou coisa assim (nem teria conhecimento suficiente para isso). Espero apenas compartilhar aqui um pouco das minhas vivências e memórias nos "Velhos Caminhos"; não como exemplo, mas como inspiração para aqueles que tecem suas próprias linhas da vida, do amor e do destino.

Abençoados Sejam!